sexta-feira, 10 de junho de 2016

OCORRÊNCIAS E LIÇÕES COM CHICO XAVIER

Por Arnaldo Rocha

   A bem da verdade, devo dizer que no início de nossa amizade estranhava muito a disciplina que Chico impunha à sua vida. Ele retornava do serviço na Fazenda Modelo à tarde, ocupando-se, incontinenti, em visitas aos enfermos, no atendimento aos necessitados e, ainda, além das noites de segundas e sextas-feiras, dedicadas às reuniões no Centro Espírita Luiz Gonzaga, aplicava-se ao trabalho silencioso de recepção de mensagens e livros ditados por instrutores espirituais. 
   Toda vez que eu voltava a Pedro Leopoldo, Chico inquiria-me com a mesma pergunta: — “O que está lendo? Fale-me de seus estudos e suas tarefas doutrinárias!” Com isso, aprendia a admirar e amar a “nossa alma querida”, exemplo de humildade, renúncia e abnegação. 
   Numa tarde de sábado, reunidos em casa de Luiza, decidimos inspecionar as obras do pequeno prédio que viria a ser a nova sede do “Luiz Gonzaga”. Chegando lá, deparamo-nos com situações de desentendimento e altercação.
    Dr. Rômulo Joviano e Lindolfo Ferreira — o responsável pelas obras — discutiam entusiasticamente em torno de ideias divergentes. Percebendo a presença de Chico, os dois amigos tranquilizaram os ânimos inflamados, de maneira que, em poucos minutos, todos conversavam saudavelmente, num clima de alegria e descontração. Após a saída de Dr. Rômulo, Chico informou-nos que o terreno onde estávamos comportara, outrora, a casa em que nascera e que aquele exato local havia sido o quarto em que sua mãe, D. Maria João de Deus, dera à luz. Uma revelação emocionante! 
     Lindolfo, abraçando-nos, disse:
— Ora, vejam só! Dr. Rômulo tem atitudes estranhas! Será que pensa estarmos ainda no cerco de destruição de Jerusalém? Estamos é construindo um templo de oração!!!
— Não se preocupe com o acontecido — disse-me Chico, algum tempo depois, a caminho de casa. — Dr. Rômulo e Lindolfo são os antigos inimigos encontrados no “Há dois mil anos”. O primeiro, nas vestes do senador romano Pompílio Crasso, amigo do também senador Publio Lentulus — Emmanuel. E o segundo, o bravo defensor da pátria judia, André de Gioras. Ambos, inconscientemente, estão recordando acontecimentos já passados. É bom nos lembrarmos do belo ensinamento emmanuelino: “O ontem muitas vezes fala mais alto do que podemos admitir no tempo a que chamamos hoje”. É por isso que em determinados estados da experiência física atual, ao nos envolvermos ou não em desarmonias mentopsíquicas e emocionais, permitimos que se nos aflorem, das criptas da inconsciência, cenas, fatos e sensações de existências passadas, que nos levam a atitudes não condizentes com os padrões estabelecidos e criados pela personalidade atual.
  Ensimesmado, procurava guardar a lição de Chico, apreendendo o sentido profundo que suas palavras encerravam.

(Livro Chico Xavier - Mandato de Amor)

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