quinta-feira, 9 de junho de 2016

O DRAMA DO SUICÍDIO


"A calma e a resignação adquiridas na maneira de encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo da loucura e do suicídio." (Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 5 - Bem-Aventurados os Aflitos, Item 14) 



A palavra suicídio (etimologicamente sui = si mesmo; -caedes = ação de matar) foi utilizada pela primeira vez por Desfontaines, em 1737 e significa morte intencional auto-infligida, isto é, quando a pessoa, por desejo de escapar de uma situação de sofrimento intenso, decide tirar sua própria vida.
De acordo com dados atuais da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 3.000 pessoas por dia cometem suicídio no mundo, o que significa que a cada 30 segundos uma pessoa se mata. Estima-se que para cada pessoa que consegue se suicidar, 20 ou mais tentam sem sucesso e que a maioria dos mais de 1,1 milhão de suicídios a cada ano poderia ser prevista e evitada. Médicos alertam que é um problema de saúde que não recebe tanta atenção por causa do tabu social.

É inegável que os conflitos de ordem social, psicológica, mental, espiritual, regurgitam em todos os cantos do mundo, revelando a imensa aflição intima que a humanidade atravessa. "Nem só de pão vive o homem...", dizia o Cristo, plenamente consciente que sem o alimento do afeto, da bondade, da alegria, da esperança, o ser definha e esmorece, não encontrando sentido para as lutas acerbas do cotidiano.

Dentro desse embate constante, muitos corações optam pela tentativa de aniquilar sua existência. Tentativa que revela o dissabor perante a vida, mas também a ignorância com relação a imortalidade do ser. Somos Espíritos, esclarece a doutrina Espírita. A consciência que intelectualiza a matéria, como definem os Espíritos a Allan Kardec (Questão 25 de O Livro dos Espíritos), não se extingue. Pré-existe e sobrevive a decomposição do corpo físico

Portanto o suicídio é destinado ao fracasso, mas também a um acumulo maior de dores e aflições, visto que o ser se depara com a continuidade da vida, alem do corpo material, carregando as mesmas angustias que o atormentavam, ampliadas pelo trauma criado contra si mesmo. Isso são os próprios indivíduos que vivenciaram a experiencia do suicídio quem nos vem relatar, pelos inúmeros testemunhos chegados pelos fenômenos mediúnicos.


Temos o exemplo do grande escritor português Camilo Castelo Branco (1825-1890), trazido pela mediunidade de Yvone Pereira do Amaral, que afirma: "Quem se atira no suicídio espera livrar-se dos sofrimentos considerados insuportáveis...Também eu pensei assim. Enganei-me, porém – e sofrimentos milhões de vezes maiores me esperavam dentro do túmulo onde me escondi, pensando escapar às dores do
corpo físico" (Livro "Memorias de um Suicida"). E prossegue em seu relato: "Devo esclarecer que o motivo que me levou ao suicídio foi a revolta da haver ficado cego. Pensei que o sofrimento da cegueira fosse grande demais. Como eu estava enganado! E, ao acordar na morte, continuava cego! Além de cego, agora estava ferido. Mas eu pensava estar apenas machucado – e não morto! Sim, a vida continuava em mim, como antes do suicídio!"

Também pela mediunidade de Fernando de Lacerda, grande trabalhador espirita português, Camilo deu provas da continuidade da Vida e das tristes consequências do suicídio. A noite de 28 de outubro de 1906, o Espírito Camilo Castelo Branco lhe ditou comunicação publicada, depois, no primeiro volume de Do País da Luz. Na introdução desse primeiro volume, Fernando de Lacerda conta que há muitos anos escrevia sobre coisas que desconhecia, alheias à sua vontade e até ao seu modo de ver e ser.
Naquela noite, ao deitar-se, o médium pareceu ouvir algo assim como um recado que devesse dar ao escritor português Silva Pinto, grande amigo de Camilo. Por mais que tentasse fixar a atenção no que lhe diziam, Fernando não conseguia captar a mensagem de forma compreensível. A voz, porém, insistia: “Tem paciência. Levanta-te e vai escrever”.
Dirigiu-se o médium ao seu escritório, julgando que lhe seria ditado o recado, apenas. Mas, na realidade, acabou psicografando uma longa carta assinada pelo autor suicida Camilo Castelo Branco, dirigida ao escritor e polemista Silva Pinto, que, por essa época, alimentava a ideia de suicidar-se. Tratava-se de veemente e comovedor apelo ao velho amigo, a quem muito influenciara com suas ideias negativas e céticas sobre a vida, para que reformulasse o seu julgamento.

Eis trecho da carta: 
"Silva Pinto: Minha vida após a morte (que estranha heresia parece isto!) tem sido a coroação dos sofrimentos e dos martírios que nesse mundo de lama e pus eu vivi!
Tu tens levado todo teu tempo a protestar e maldizer.
Meu amigo, meu irmão, deves levar teu pensamento ao Alto e, quando fizeres verás que tudo o que te tortura é tão insignificante, que não merece teus aborrecimentos. Eleva-te acima do charco e ficarás surpreso contigo próprio, por indignar-te com coisinhas tão sem valor.
Pensa! Reflete! Experimenta! Coloca uma planta num vaso limpo, com terra perfumada - e esta planta nem chegará a lançar raízes. E coloca planta idêntica em vaso com excremento imundo, terra apodrecida - e ela vegetará. elevará seus ramos até o céu!
Que grande lição nos dão as flores! Se a matéria do adubo é a podridão, como queres impedir que Deus use processo semelhante para avaliar o mérito da mais perfeita de todas as criaturas que fabricou?
O meu mal foi não ter visto a vida por esse prisma! Quando a vi assim, era tarde; e então sofri pelo mal que fiz; e então encontrei o horror que nem em teus piores pesadelos poderás ver igual..."

Silva Pinto ficou de tal forma impactado pela mensagem do velho amigo, que passou a refletir e modificou a forma de ver os espinhos do caminho, que lhe afligiam. Deixou as ideias materialistas que o consumiam e tornou-se Cristão. Declarou abertamente, após conscientizar-se da realidade maior da Vida: "Pensava que na minha qualidade de vitima, tinha o direito de vir embora quando me desse vontade.
Mas enganei-me. E quando ia me lançar à podridão das carnes por conta própria, surge da região do Pavor, o meu Camilo! Surgiu ele a gritar-me que parasse!
E parei.
Isto de saber parar não é para todos - mas eu soube parar. Estaquei atônito. refleti e disse: - Alto, seu Silva Pinto! O que vai fazer? Diabo! E se for verdade que o Camilo vive? E se eu, que fui joguete da sorte, ainda tiver de apanhar do lado de lá?
Pode não ser verdade o que está escrito nestas paginas, com o nome de Camilo, mas... E se for?"

Fica a todos que passam os olhos e os corações nestas linhas a mesma indagação!
Não será justo tentarmos enxergar as lutas da senda humana por outro angulo? Não nos será mais digno erguermos a fronte, reconhecermo-nos como filhos de Deus e com potencial de vencermos os desafios do momento? Buscando a calma, a resignação com toques de luz, tentarmos mais uma vez sobrepujar a prova? Somos mais do que nossos olhos podem ver!!
Tenhamos fé... fé plenificada pela razão.
Aquela que nos permita enxergar o sentido das dores que, por hora, nos afetam, mas que passarão.... fatalmente se acabarão. Mas nós, obras imortais do Senhor, não seremos excluídos da Vida jamais!

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