terça-feira, 19 de julho de 2016

HUMILDADE E PACIÊNCIA

Por Márcia Q. Silva Baccelli

 

Cada época se define por uma visão do Universo e se exprime pela dominância de determinado tipo de homem.
Ontem, o homem dominava pela força física, lutando um contra o outro para deter o poder e a autoridade. Hoje, o homem domina pela ciência. É o conhecimento intelectual investigando os ares, a Terra e os mares. Amanhã será a vez do homem dominar através do coração, permitindo que o sentimento de amor seja o laço de união entre todas as criaturas.
A Doutrina Espírita alarga o nosso horizonte de compreensão a respeito da vida, ensinando-nos que ela é uma viagem que nos conduz a um objetivo: a conquista da perfeição.
Mas, pelo caminho, o espírito se defronta com inúmeros obstáculos e espinhos que ameaçam destruir os seus mais belos ideais. No entanto, se o seu olhar é dirigido para o alvo a atingir, pouco lhe importam as asperezas da senda.
Enquanto existirem duelos mentais e ódio sobre a face da Terra, o verdadeiro Reino de Deus ainda não terá chegado. Esse Reino de pacificação e de amor deverá banir do nosso mundo a discórdia e a guerra. Os homens não necessitarão sobrepor-se uns aos outros, não conhecerão entre si antagonismos senão a nobre “competição” de fazer o bem.
No Evangelho, encontramos a expressão de Jesus: “Bem-aventurados aqueles que são brandos e pacíficos, porque eles possuirão a Terra.” (Mateus 5:4)
O mundo está impregnado de preconceitos monstruosos, onde aquele que responde aos golpes do ódio com o perdão é considerado um covarde, um bobo! A humildade e a caridade cristã ainda lutam para apropriar-se do coração humano, interditando o mal e exaltando o bem.
Chico Xavier falou-nos, certa vez, da importância da conquista do perdão para a garantia da paz, assim se referindo ao agressor:
— Você está perdoado pelo que fez, está perdoado pelo que está fazendo e está perdoado pelo que irá fazer!...
São os atos do passado, do presente e dos acontecimentos que estão por vir que interferem no comportamento humano. Mas o perdão abrange todas as etapas do desenvolvimento espiritual, garantindo a paz àqueles que o vivenciam em todas as épocas de seu aprendizado.
Recentemente, ao final do trabalho no Grupo Espírita da Prece, Chico foi abordado por um jovem, que indagou-lhe:
— Chico, é muito grande a luta que nós, os espíritas, estamos enfrentando para garantir a nossa transformação. Quais são os caminhos que devemos tomar para persistir na seara espírita?
— Ah, meu filho, só conseguiremos vencer através de dois caminhos: humildade e paciência!

(Fonte: “O Espírita Mineira) número 209, setembro/novembro de 1991)

quinta-feira, 14 de julho de 2016

A NOVA GERAÇÃO


Por Allan Kardec

'Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que somente ao bem se dediquem. Havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica dos que a habitam: a dos que praticam o mal pelo mal, ainda não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão, lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constituiriam obstáculo ao progresso. Irão expiar o endurecimento de seus corações, uns em mundos inferiores, outros em raças terrestres ainda atrasadas, equivalentes a mundos daquela ordem, aos quais levarão os conhecimentos que hajam adquirido, tendo por missão fazê-las avançar. Substituí-los-ão Espíritos melhores, que farão reinem em seu seio a justiça, a paz e a fraternidade. 

A Terra, no dizer dos Espíritos, não terá de transformar-se por meio de um cataclismo que aniquile de súbito uma geração. A atual desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança alguma na ordem natural das coisas.

Tudo, pois, se processará exteriormente, como sói acontecer, com a única, mas capital diferença de que uma parte dos Espíritos que encarnavam na Terra aí não mais tornarão a encarnar. Em cada criança que nascer, em vez de um Espírito atrasado e inclinado ao mal, que antes nela encarnaria, virá um Espírito mais adiantado e propenso ao bem. 

Muito menos, pois, se trata de uma nova geração corpórea, do que de uma nova geração de Espíritos. Sem dúvida, neste sentido é que Jesus entendia as coisas, quando declarava: «Digo-vos, em verdade, que esta geração não passará sem que estes fatos tenham ocorrido.» Assim decepcionados ficarão os que contem ver a transformação operar-se por efeitos sobrenaturais e maravilhosos.' (A GÊNESE, Capítulo XVIII, item 14, Allan Kardec. São Chegados os tempos.)
.......

'A época atual é de transição; confundem-se os elementos das duas gerações. Colocados no ponto intermédio, assistimos à partida de uma e à chegada da outra, já se assinalando cada uma, no mundo, pelos caracteres que lhes são peculiares. 

Têm idéias e pontos de vista opostos as duas gerações que se sucedem. Pela natureza das disposições morais, porém sobretudo das disposições intuitivas e inatas, torna-se fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo. 

Cabendo-lhe fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. Não se comporá exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as idéias progressistas e aptos a secundar o movimento de regeneração. 

O que, ao contrário, distingue os Espíritos atrasados é, em primeiro lugar, a revolta contra Deus, pelo se negarem a reconhecer qualquer poder superior aos poderes humanos; a propensão instintiva para as paixões degradantes, para os sentimentos antifraternos de egoísmo, de orgulho, de inveja, de ciúme; enfim, o apego a tildo o que é material: a sensualidade, a cupidez, a avareza. 

Desses vícios é que a Terra tem de ser expurgada pelo afastamento dos que se obstinam em não emendar-se; porque são incompatíveis com o reinado da fraternidade e porque o contacto com eles constituirá sempre um sofrimento para os homens de bem. Quando a Terra se achar livre deles, os homens caminharão sem óbices para o futuro melhor que lhes está reservado, mesmo neste mundo, por prêmio de seus esforços e de sua perseverança, enquanto esperem que uma depuração mais completa lhes abra o acesso aos mundos superiores.

29. - Não se deve entender que por meio dessa emigração de Espíritos sejam expulsos da Terra e relegados para mundos inferiores todos os Espíritos retardatários. Muitos, ao contrário, aí voltarão, porquanto muitos há que o são porque cederam ao arrastamento das circunstâncias e do exemplo. Nesses, a casca é pior do que o cerne. Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos prejuízos do mundo corporal, eles, em sua maioria, verão as coisas de maneira inteiramente diversa daquela por que as viam quando em vida, conforme os múltiplos casos que conhecemos. Para isso, têm a auxiliá-los Espíritos benévolos que por eles se interessam e se dão pressa em esclarecê-los e em lhes mostrar quão falso era o caminho que seguiam. Nós mesmos, pelas nossas preces e exortações, podemos concorrer para que eles se melhorem, visto que entre mortos e vivos há perpétua solidariedade. 

É muito simples o modo por que se opera a transformação, sendo, como se vê, todo ele de ordem moral, sem se afastar em nada das leis da Natureza.

30. - Sejam os que componham a nova geração Espíritos melhores, ou Espíritos antigos que se melhoraram, o resultado é o mesmo. Desde que trazem disposições melhores, há sempre uma renovação. Assim, segundo suas disposições naturais, os Espíritos encarnados formam duas categorias: de um lado, os retardatários, que partem; de outro, os progressistas, que chegam. O estado dos costumes e da sociedade estará, portanto, no seio de um povo, de uma raça, ou do mundo inteiro, em relação com aquela das duas categorias que preponderar.

31. - Uma comparação vulgar ainda melhor dará a compreender o que se passa nessa circunstância. Figuremos um regimento composto na sua maioria de homens turbulentos e indisciplinados, os quais ocasionarão nele constantes desordens que a lei penal terá por vezes dificuldades em reprimir. Esses homens são os mais fortes, porque mais numerosos do que os outros. Eles se amparam, animam e estimulam pelo exemplo. Os poucos bons nenhuma influência exercem; seus conselhos são desprezados; sofrem com a companhia dos outros, que os achincalham e maltratam. Não é essa uma imagem da sociedade atual? 

Suponhamos que esses homens são retirados um a um, dez a dez, cem a cem, do regimento e substituídos gradativamente por iguais números de bons soldados, mesmo por alguns dos que, já tendo sido expulsos, se corrigiram. Ao cabo de algum tempo, existirá o mesmo regimento, mas transformado. A boa ordem terá sucedido à desordem.

32. - As grandes partidas coletivas, entretanto, não têm por único fim ativar as saídas; têm igualmente o de transformar mais rapidamente o espírito da massa, livrando-a das más influências e o de dar maior ascendente às idéias novas. 

Por estarem muitos, apesar de suas imperfeições, maduros para a transformação, é que muitos partem, a fim de apenas se retemperarem em fonte mais pura. Enquanto se conservassem no mesmo meio e sob as mesmas influências, persistiriam nas suas opiniões e nas suas maneiras de apreciar as coisas. Uma estada no mundo dos Espíritos bastará para lhes descerrar os olhos, por isso que aí vêem o que não podiam ver na Terra. O incrédulo, o fanático, o absolutista, poderão, conseguintemente, voltar com idéias inatas de fé, tolerância e liberdade. Ao regressarem, acharão mudadas as coisas e experimentarão a influência do novo meio em que houverem nascido. Longe de se oporem às novas idéias, constituir-se-ão seus auxiliares.

33. - A regeneração da Humanidade, portanto, não exige absolutamente a renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais. Essa modificação se opera em todos quantos lhe estão predispostos, desde que sejam subtraídos à influência perniciosa do mundo. Assim, nem sempre os que voltam são outros Espíritos; são com freqüência os mesmos Espíritos, mas pensando e sentindo de outra maneira. 

Quando insulado e individual, esse melhoramento passa despercebido e nenhuma influência ostensiva alcança sobre o mundo. Muito outro é o efeito, quando a melhora se produz simultaneamente sobre grandes massas, porque, então, conforme as proporções que assuma, numa geração, pode modificar profundamente as idéias de um povo ou de uma raça.

É o que quase sempre se nota depois dos grandes choques que dizimam as populações. Os flagelos destruidores apenas destroem corpos, não atingem o Espírito; ativam o movimento de vaivém entre o mundo corporal e o mundo espiritual e, por conseguinte, o movimento progressivo dos Espíritos encarnados e desencarnados. É de notar-se que em todas as épocas da História, às grandes crises sociais se seguiu uma era de progresso.

34. - Opera-se presentemente um desses movimentos gerais, destinados a realizar uma remodelação da Humanidade. A multiplicidade das causas de destruição constitui sinal característico dos tempos, visto que elas apressarão a eclosão dos novos germens. São as folhas que caem no outono e às quais sucedem outras folhas cheias de vida, porquanto a Humanidade tem suas estações, como os indivíduos têm suas várias idades. As folhas mortas da Humanidade caem batidas pelas rajadas e pelos golpes de vento, porém, para renascerem mais vivazes sob o mesmo sopro de vida, que não se extingue, mas se purifica.

35. - Para o materialista, os flagelos destruidores são calamidades carentes de compensação, sem resultados aproveitáveis, pois que, na opinião deles, os aludidos flagelos aniquilam os seres para sempre. Para aquele, porém, que sabe que a morte unicamente destrói o envoltório, tais flagelos não acarretam as mesmas conseqüências e não lhe causam o mínimo pavor; ele lhes compreende o objetivo e não ignora que os homens não perdem mais por morrerem juntos, do que por morrerem isolados, dado que, duma forma ou doutra, a isso hão de todos sempre chegar. 

Os incrédulos rirão destas coisas e as qualificarão de quiméricas; mas, digam o que disserem, não fugirão à lei comum; cairão a seu turno, como os outros, e, então, que lhes acontecerá? Eles dizem: Nada! Viverão, no entanto, a despeito de si próprios e se verão, um dia, forçados a abrir os olhos.'


A Gênese, Capítulo XVIII, 28 a 35, Allan Kardec FEB.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

IRRADIANDO FORÇAS


Onde você esteja...
Com quem você esteja...
Saiba: você irradia forças incomensuráveis!
Embora de maneira inconsciente, dia-a-dia, relação a relação, estamos em constante permuta magnética.
Enviamos e recebemos energias.
Alimentamo-nos de forças da alma, renovamo-nos e criamos... a cada pensar, em todo sentir.
Não por acaso a medicina tem observado os efeitos das doenças psicossomáticas.
Nossa maneira de trabalhar os pensamentos e sentimentos determina a saúde ou doença.
A raiva, o melindre, a tristeza, a angustia, o ciume, podem realmente gerar enfermidades. 
Nos detendo, como exemplo, apenas no quesito rancor, magoa, raiva, as ciências psicológicas afirmam, sentir raiva excessiva e de forma constante pode trazer diversos males ao indivíduo ao longo do tempo. Podem surgir problemas como cansaço físico excessivo, falta de memória e problemas gastrointestinais... A raiva provoca uma descarga de adrenalina muito grande no organismo, e leva a alterações fisiológicas como aumento da pressão e dos batimentos cardíacos, tonturas, vertigens, tremores, sudorese, pelos arrepiados, inquietação e até insônia.
Ao longo do tempo, essas "descargas" de raiva podem acarretar doenças mais graves, caso ocorram com muita frequência e intensidade além do aceitável.
Sem que nos apercebamos, estamos disparando "bombas" em nosso mundo intimo, deteriorando nosso equilíbrio e paz.
Ha grande poder em nossa mente, em nosso coração. Essas energias materializam-se, condensam-se, gerando uma realidade nova em nossas vidas.
Mas além disso, essas forças também se exteriorizam. 
Como espíritos, temporariamente revestidos dessa matéria carnal, nossos sentimentos e pensamentos não ficam limitados ao nosso corpo, muito pelo contrario. Cada ser é um centro de forças a movimentar potencias. Em o Livro dos Espíritos, em resposta a questão nº 92, esclarecem os Benfeitores Espirituais a Allan Kardec que cada espirito é um centro que irradia para diferentes lados, e é por isso que parecem estar em muitos lugares ao mesmo tempo. Vês o sol, que não é mais do que um, e, não obstante, irradia por toda parte e envia os seus raios até muito longe. E na questão nº 420 eles reiteram, O Espírito não está encerrado no corpo como numa caixa: ele irradia em todo o seu redor...
Recordo interessante relato feito por Ramiro Gama, sobre Chico Xavier em seu livro "Lindos Casos de Chico Xavier":
Eram oito horas da manhã de um sábado de maio.
Chico levantara-se apressado. Dormira demais.
Trabalhara muito na véspera, psicografando uma obra erudita de Emmanuel.
Não esperara a charrete.
Fora mesmo a pé para o escritório da Fazenda.
Não andava, voava, tão velozmente caminhava.
Ao passar em frente à casa de Dona Alice, esta chama-o:
— Chico, estou esperando-o desde as seis horas. Desejo-lhe uma explicação.
— Estou muito atrasado, Dona Alice. Logo mais, na hora do almoço, lhe atenderei.
Dona Alice fica triste e olha o irmão, que retomara os passos ligeiros a caminho do serviço.
Um pouco adiante, Emmanuel lhe diz:
— Volte, Chico, atende à irmã Alice. Gastará apenas cinco minutos, que não irão prejudicá-lo.
Chico volta e atende.
— Sabia que você voltava, conheço seu coração.
E pede-lhe explicação como tomar determinado remédio homeopático que o caroável Dr. Bezerra de Menezes lhe receitara, por intermédio do abnegado Médium.
Atendida, toda se alegra. E despedindo-se:
— Obrigada, Chico. Deus lhe pague! Vá com Deus! Chico parte apressado. Quer recobrar os minutos perdidos.
Quando andara uns cem metros, Emmanuel, sempre amoroso, lhe pede:
— Pare um pouco e olhe para trás e veja o que está saindo dos lábios de Dona Alice e caminhando para você.
Chico para e olha: uma massa branca de fluidos luminosos sai da boca da irmã atendida e encaminha-se para ele e entra-lhe no corpo.
— Viu, Chico, o resultado que obtemos quando somos serviçais, quando possibilitamos a alegria cristã aos nossos irmãos?
E concluiu:
— Imagine se, em vez de Vá com Deus, ela dissesse, magoada, “vá com o diabo”. Dos seus lábios sairiam coisas diferentes, como cinzas, ciscos, algo pior…
Tenhamos consciência dessa realidade.
Em nós existem grandes capacidades ocultas, capazes de realizar grandes façanhas.
O próprio Cristo já asseverava: Tudo que eu faço vós podeis fazer, desde que tenham fé...
Busquemos compreender nosso mundo interior, as forças transformadoras da alma e não haverão desafios que não possamos vencer. 
Começando por aqueles que estão, ainda, em nós mesmos.
Hoje é dia completamente novo e você, desde já, pode começar a irradiar tuas forças de paz e de amor para a tua felicidade e dos que estejam em torno de ti!

GIGANTES DA ALMA


Na década de 1940, o emérito psicólogo e psiquiatra espanhol, professor Emílio Mira y López, fazendo uma análise da sociedade, estabeleceu que as criaturas humanas, na época, eram vítimas de quatro gigantes da alma.
Ele arrolava o amor, o dever, a ira, o medo, como verdadeiros gigantes que dominavam as almas das criaturas, tornando-as desajuizadas e sofridas.
No ano de 1985, o Espírito Joana de Ângelis, fazendo uma releitura da sociedade daquela década, escreveu, através da mediunidade de Divaldo Franco, a obra que intitulou O homem integral.
Nesse livro, a veneranda benfeitora procura demonstrar que a criatura humana, porque perdeu o endereço de Deus, ainda não logrou conseguir a paz.

A ciência, aliada à tecnologia de ponta, que trouxe tanto conforto e comodidade para os indivíduos, não conseguiu resolver o problema da emotividade.
O ser humano perdeu o endereço de si mesmo. Os notáveis psicólogos do comportamento, como o teólogo e psicólogo americano Rollo May estabelece que tudo isso é fruto do vazio existencial.
As pessoas atingem a idade adulta e continuam perguntando: Quem sou eu? O que é que eu vim fazer na Terra? Qual seria a minha missão?
Eu não sei exatamente porque sofro, aliás, nem sei se pedi para estar aqui.

Todas essas reflexões amargas que denotam um terrível pessimismo são fruto da perda de direção do indivíduo.
Por essas e outras razões, Joana de Ângelis diz que podemos relacionar quatro modernos gigantes da alma. Gigantes que nos afligem, que nos aturdem e que nos tiram a razão de ser da existência: a rotina, a ansiedade, o medo e a solidão.
A rotina é esse estado psicológico de aceitação doentia e monótona da existência humana. É um mecanismo de fuga.
Procuramos ter uma vida rotineira, para não correr riscos, para não nos aventurar, e perdemos o sentimento de beleza, do ideal, a alegria de viver, os estímulos, deixando-nos arrastar pelo marasmo e tombando na indiferença.

A rotina é a ferrugem da alma.

É atrás dela que um grande número de nós nos escondemos para não assumir responsabilidades. Porque os desafios parecem muito perturbadores.
Por causa disso muitos dormimos sempre na mesma hora; acordamos na mesma hora; fazemos os mesmos caminhos; sentamos nos mesmos lugares; assistimos os mesmos programas de televisão; e nos apegamos às mesmas conversas pessimistas e superficiais.
Sempre temos do que nos queixarmos e a vida perde completamente o sentido existencial.

Mudemos a rotina. Façamos diferente. Verifiquemos os caminhos que percorremos indo de casa para o trabalho, do trabalho para casa. Mudemos o trajeto de vez em quando. Não deixemos tantas coisas no automático.
Desafiemo-nos a novas aventuras, a sair da zona de conforto, a tentar coisas novas e perceberemos que nossa vida ganhará um novo colorido.
Os dias não irão mais passar tão rápido, como costumamos dizer. Isso acontece quando estamos escravizados à rotina e não temos tempo para respirar fora dela.

Retiremos a ferrugem da alma. Saiamos da rotina!!

(com base na palestra Os gigantes da alma, de Divaldo Pereira Franco)

segunda-feira, 4 de julho de 2016

HISTORIA DE UM CÃO


Falávamos de amor, de heroísmo e ternura,
Nos caminhos da Terra, em lutas naturais,
Quando um amigo lembrou: “não se deve esquecer
O amor dos animais”.

E contou comovido:
— Quando na Terra, um pobre cão rafeiro
Que eu nunca soube de onde vinha,
Fez-se meu companheiro
Na tapera isolada que eu mantinha.
Era um cão vagabundo, um desses cães,
Cujo medo de banho desconsola,
Vendo-lhe a boca enorme e as bochechas caídas,
As crianças chamavam-no Beiçola.
Bernento e preguiçoso, muitas vezes,
Procurei desterrá-lo,
Mas Beiçola voltava e me seguia
Estivesse eu a pé ou trotando a cavalo.
Já não sabia o que fazer do cão,
Que já me habituara a suportar
Num misto de amizade e de aversão.
Certa manhã de sábado, eu devia,
Ir do campo à cidade,
A fim de resgatar antiga conta
Cujo prazo vencia.
Montei no meu pequira muito cedo
De merenda robusta na sacola,
E pus-me alegremente no caminho
Acompanhado por Beiçola.
Desmontei-me às dez horas para o almoço,
Transportando a merenda para baixo,
Ao pé de velha ponte que cobria
Um pequeno riacho…
Alimentei-me à farta e dei ao cão
Tudo o que me sobrou da refeição…
Tomei de novo a montaria
Açoitei o animal para seguir depressa,
O débito a pagar era daquele dia,
Mas uma cena estranha então começa.
Beiçola, de ordinário, pachorrento,
Intentava correr, de lado a lado,
Em uivos e latidos…
Depois correu à frente,
Como a querer parar o pequira assustado.
O cão dependurava-se nos freios,
Enquanto eu lhe gritava nomes feios;
Espanquei-o a chicote, mas em vão…
E cansado de vê-lo a pular, doidamente,
Conclui, de repente,
Que a doença da raiva atacara meu cão…
Agi sem medo, rápido e seguro,
Dei-lhe um tiro com o fim de eliminá-lo,
De modo a defender-me e a livrar meu cavalo.
Beiçola então soltou doloroso gemido,
Caminhou para trás, claramente ferido,
Enquanto fui em frente…
Mas atingindo o banco e buscando o gerente,
A fim de resgatar a minha conta inteira,
Debalde procurei minha carteira…
No assombro que me toma,
Notei que me faltava grande soma…
Decerto que perdera o dinheiro em caminho
Pois saíra com ele da fazenda…
Deliberei voltar ao local da merenda,
Pedi ao chefe amigo aguardar mais um pouco
E aflito, semi-louco,
Remontei o cavalo e voltei de corrida…
Regressando ao lugar em que estivera…
E o amigo rematou, emocionado:
— Só então compreendi quão ingrato que eu era…
Sabem o que encontrei?
Após seguir pequeno espaço
Todo ele marcado em sangue, traço a traço,
Achei Beiçola já sem vida…
E ao arrastá-lo para um canto,
Vi, sob o corpo dele, a estremecer de espanto,
A carteira perdida…
Ah! como me doeu o coração
De susto e de emoção!…
Não sei dizer tudo o que sinto,
Por muito que lhes conte,
Meu pobre cão rafeiro,
Cuja lembrança está sempre comigo,
Arrastou-se ferido e, após ganhar a ponte,
Morreu fiel e amigo,
Guardando o meu dinheiro.

Espirito Maria Dolores
Médium Francisco C. Xavier
Livro "Coração e Vida"

domingo, 3 de julho de 2016

NÃO PERDOAR



Bezerra de Menezes, já devotado à Doutrina Espírita, almoçava, certa feita, em casa de Quintino Bocaiuva, o grande republicano, e o assunto era o Espiritismo, pelo qual o distinto jornalista passara a interessar-se.
 Em meio da conversa, aproxima-se um serviçal e comunica ao dono da casa:
— Doutor, o rapaz do acidente está aí com um policial.
 Quintino, que fora surpreendido no gabinete de trabalho com um tiro de raspão, que, por pouco, não lhe atingiu a cabeça, estava indignado com o servidor que inadvertidamente fizera o disparo.
— Manda-o entrar — ordenou o político.
— Doutor — roga o moço preso, em lágrimas —, perdoe o meu erro! Sou pai de dois filhos… Compadeça-se! Não tinha qualquer má intenção… Se o senhor me processar, que será de mim? Sua desculpa me livrará! Prometo não mais brincar com armas de fogo! Mudarei de bairro, não incomodarei o senhor…
 O notável político, cioso da própria tranquilidade, respondeu:
— De modo algum. Mesmo que o seu ato tenha sido de mera imprudência, não ficará sem punição. Percebendo que Bezerra se sentia mal, vendo-o assim encolerizado, considerou, à guisa de resposta indireta:
— Bezerra, eu não perdoo, definitivamente não perdoo…
 Chamado nominalmente à questão, o amigo exclamou desapontado:
— Ah! você não perdoa!
 Sentindo-se intimamente desaprovado, Quintino falou, irritado:
— Não perdoo erro. E você acha que estou fora do meu direito?
 O Dr. Bezerra cruzou os braços com humildade e respondeu:
— Meu amigo, você tem plenamente o direito de não perdoar, contanto que você não erre…
 A observação penetrou Quintino como um raio.
O grande político tomou um lenço, enxugou o suor que lhe caía em bagas, tornou à cor natural, e, após refletir alguns momentos, disse ao policial:
— Solte o homem. O caso está liquidado.
 E para o moço que mostrava profundo agradecimento:
— Volte ao serviço hoje mesmo, e ajude na copa.
 Em seguida, lançou inteligente olhar para Bezerra, e continuou a conversação no ponto em que haviam ficado.

Espirito Hilario Silva
Médium Francisco C. Xavier
Livro "Almas em Desfile"

sábado, 2 de julho de 2016

A HONRA



Conta-se que um promotor público, nomeado para uma cidade interiorana do Sul do Brasil, ali chegou jovem e entusiasta.
Conhecedor da lei, amante da ordem e do direito, se propôs a realizar o melhor, naquela localidade.
Um dos primeiros casos que lhe chegou às mãos foi o de um homem que, em plena praça, à vista de vários cidadãos, descarregara todas as balas do seu revólver em sua esposa.
Fora um crime bárbaro, cruel, presenciado por muitos. O jovem promotor estudou o caso e, com tranquilidade, se propôs a fazer a acusação daquele réu.
Para ele, não havia dúvidas. Tratava-se de um crime bárbaro. O homem, tomado de ciúmes, pois descobrira que a esposa o traíra, a matara de forma fria, premeditada.
Havia muitas testemunhas. O fato era notório. Não havia erro. Aquele homem seria condenado.
Contudo, no transcurso do processo, foi se tomando de surpresa o promotor.
O advogado do réu apresentou sua defesa baseado em que ele não deveria ser julgado culpado pois, afinal, fora brutalmente ofendido em sua honra.
A surpresa foi maior ainda quando o júri chegou ao veredito de inocente. Entenderam os jurados daquela cidade que o homem traído mais não fizera do que lavar a sua honra. E honra se lava com sangue.
Não se tratava de uma questão de direito, de certo e de errado, mas de como aquela gente entendia que tudo deveria ser resolvido.
E, no caso, somente a morte poderia lavar a honra daquele cidadão.

Em várias localidades, em nosso país e no mundo, muitos ainda acreditam que a honra se lava com sangue.
Quando ouvimos relatos de fatos semelhantes, aqui e ali, tentando justificar atos de violência, ficamos chocados.
Compete-nos refletir e pesar nossos valores.
Recordamos que, certa feita, Moandas Gandhi, o líder pacifista da Índia, foi esbofeteado em pleno rosto.
O golpe fora tão rude que ele caíra. Levantou-se, limpou a poeira da roupa e, sereno, continuou o seu caminho.
Uma jornalista londrina teve oportunidade de lhe perguntar:

Senhor, o senhor não vai revidar?

Por que deveria? - Perguntou, tranquilo.

Mas, senhor, ele lhe esbofeteou a face. Feriu a sua honra.

Gandhi a olhou, profundamente, nos olhos e respondeu:

Minha jovem, minha honra não está no rosto.

Sim, sua honra como a de todos nós, não está no rosto. A honra está na alma e essa ninguém a pode remover, senão nós mesmos.
Manchamos nossa honra de filhos de Deus quando nos permitimos revidar agressões, descer ao nível do agressor.
Dilapidamos nossa honra quando nos permitimos compactuar com a mentira, com a corrupção, com o crime de qualquer nível.
Pensemos nisso e nos mantenhamos no bem, no caminho do reto dever, mesmo que as circunstâncias pareçam contra nós.

Recordemos a exortação do Divino Pastor: Quem perseverar até o fim, este será salvo!

Perseveremos no bem, conservando a honra inigualável de filhos de Deus.

A CARNE É FRACA


Por Allan Kardec

Estudo Psicológico e Moral

Há inclinações viciosas que, evidentemente, são inerentes ao Espírito, porque se devem mais ao moral do que ao físico; outras mais parecem consequências do organismo e, por este motivo, nós nos julgamos menos responsáveis; tais são as predisposições a cólera, à indolência, à sensualidade, etc.
Está hoje perfeitamente reconhecido, pelos filósofos espiritualistas, que os órgãos cerebrais correspondentes às diversas aptidões, devem o seu desenvolvimento à atividade do Espírito; que esse desenvolvimento é, assim, um efeito e não uma causa. Um homem não é músico porque tenha a bossa da música, mas tem a bossa da música porque seu Espírito é músico. (Revista de julho de 1860 e abril de 1862.)
Se a atividade do Espírito reage sobre o cérebro, deve reagir igualmente sobre as outras partes do organismo. Assim, o Espírito é o artífice de seu próprio corpo, que, a bem-dizer, modela, a fim de apropriá-lo às suas necessidades e à manifestação de suas tendências. Assim sendo, a perfeição do corpo nas raças adiantadas seria o resultado do trabalho do Espírito, que aperfeiçoa a sua ferramenta à medida que aumentam as suas faculdades. (A Gênese segundo o Espiritismo, cap. XI, “Gênese espiritual”.)
Por uma consequência natural deste princípio, as disposições morais do Espírito devem modificar as qualidades do sangue, dar-lhe maior ou menor atividade, provocar uma secreção mais ou menos abundante de bile ou outros fluidos. É assim, por exemplo, que o glutão sente vir a saliva ou, como se diz vulgarmente, a água à boca à vista de um prato apetitoso. Não é o alimento que superexcita o órgão do paladar, pois não há contato; é o Espírito, cuja sensualidade é despertada, que age pelo pensamento sobre esse órgão, enquanto a vista daquele prato nada produz sobre outro Espírito. Dá-se o mesmo em todas as cobiças, em todos os desejos provocados pela vista. A diversidade das emoções não pode explicar-se, numa porção de casos, senão pela diversidade das qualidades do Espírito. Tal a razão pela qual uma pessoa sensível chora facilmente; não é a abundância das lágrimas que dá a sensibilidade ao Espírito, mas a sensibilidade do Espírito que provoca a secreção abundante de lágrimas. Sob o império da sensibilidade, o organismo modelou-se sob esta disposição normal do Espírito, como se modelou sob a do Espírito glutão.
Seguindo esta ordem de ideias, compreende-se que um Espírito irascível deve levar ao temperamento bilioso; donde se segue que um homem não é colérico porque seja bilioso, mas que é bilioso porque é colérico. Dá-se o mesmo com todas as outras disposições instintivas; um Espírito mole e indolente deixará o seu organismo num estado de atonia em conformidade com o seu caráter, ao passo que, se for ativo e enérgico, dará ao seu sangue, aos seus nervos, qualidades completamente diferentes. A ação do Espírito sobre o físico é de tal modo evidente que, muitas vezes, se veem graves desordens orgânicas produzidas por efeito de violentas comoções morais. A expressão vulgar: A emoção lhe fez subir o sangue, não é assim tão desprovida de sentido quanto se podia crer. Ora, o que pôde alterar o sangue, senão as disposições morais do Espírito?
Este efeito é sensível, sobretudo nas grandes dores, nas grandes alegrias, nos grandes pavores, cuja reação pode até causar a morte. Veem-se pessoas que morrem do medo de morrer. Ora, que relação existe entre o corpo do indivíduo e o objeto que lhe causa pavor, objeto que, no mais das vezes, não tem nenhuma realidade? Diz-se que é o efeito da imaginação; seja; mas o que é a imaginação, senão um atributo, um modo de sensibilidade do Espírito? Parece difícil atribuir a imaginação aos músculos e aos nervos, pois, então, não se explicaria por que esses músculos e esses nervos nem sempre têm imaginação; por que não a têm após a morte; por que o que nuns causa um pavor mortal, superexcita a coragem em outros.
Seja qual for a sutileza que se use para explicar os fenômenos morais exclusivamente pelas propriedades da matéria, cai-se inevitavelmente num impasse, no fundo do qual se percebe, com toda a evidência, e como única posição possível, o ser espiritual independente, para quem o organismo não passa de um meio de manifestação, como o piano é o instrumento das manifestações do pensamento do músico. Assim como o músico afina o seu piano, pode-se dizer que o Espírito afina o seu corpo para pô-lo no diapasão de suas disposições morais.
É realmente curioso ver o materialismo falar incessantemente da necessidade de resgatar a dignidade do homem, quando se esforça por reduzi-lo a um pedaço de carne, que apodrece e desaparece sem deixar qualquer vestígio; de reivindicar para ele a liberdade como um direito natural, quando o transforma num mecanismo, agindo como um autômato, sem responsabilidade por seus atos.
Com o ser espiritual independente, preexistente e sobrevivente ao corpo, a responsabilidade é absoluta. Ora, para o maior número, o primeiro, o principal móvel da crença no niilismo, é o pavor que causa essa responsabilidade, fora da lei humana, e à qual se crê escapar, tapando os olhos. Até hoje esta responsabilidade nada tinha de bem definido; não era senão um medo vago, fundado, é preciso reconhecer, em crenças nem sempre admissíveis pela razão; o Espiritismo a demonstra como uma realidade patente, efetiva, sem restrição, como uma consequência natural da espiritualidade do ser. Eis por que certas pessoas têm medo do Espiritismo, que as perturbaria em sua quietude, erguendo à sua frente o temível tribunal do futuro. Provar que o homem é responsável por todos os seus atos é provar a sua liberdade de ação, e provar a sua liberdade é resgatar a sua dignidade. A perspectiva da responsabilidade fora da lei humana é o mais poderoso elemento moralizador: é o objetivo ao qual conduz o Espiritismo pela força das coisas.
Conforme as observações fisiológicas que precedem, pode-se, pois, admitir que o temperamento é, ao menos em parte, determinado pela natureza do Espírito, que é causa e não efeito.
Dizemos em parte, porque há casos em que o físico evidentemente influi sobre o moral: é quando um estado mórbido ou anormal é determinado por uma causa externa, acidental, independente do Espírito, como a temperatura, o clima, os vícios hereditários de constituição, um mal-estar passageiro, etc. O moral do Espírito pode, então, ser afetado em suas manifestações pelo estado patológico, sem que sua natureza intrínseca seja modificada.
Desculpar-se de suas más ações com a fraqueza da carne não é senão um subterfúgio para escapar à responsabilidade.
A carne só é fraca porque o Espírito é fraco, o que derruba a questão e deixa ao Espírito a responsabilidade de todos os seus atos. A carne, que nem tem pensamento nem vontade, jamais prevalece sobre o Espírito, que é o ser pensante e voluntarioso. É o Espírito que dá à carne as qualidades correspondentes aos seus instintos, como um artista imprime à sua obra material o cunho de seu gênio. Liberto dos instintos da bestialidade, o Espírito modela um corpo, que não é mais um tirano para as suas aspirações à espiritualidade de seu ser; é então que o homem come para viver, porque viver é uma necessidade, mas não vive mais para comer.
A responsabilidade moral dos atos da vida fica, pois, inteira; mas, diz a razão que as consequências desta responsabilidade devem estar na razão do desenvolvimento intelectual do espírito; quanto mais esclarecido, menos desculpável, porque, com a inteligência e o senso moral, nascem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto. O selvagem, ainda vizinho da animalidade, que cede ao instinto do animal,
comendo o seu semelhante, é, sem contradita, menos culpável do que o homem civilizado que comete uma simples injustiça. Esta lei ainda encontra sua aplicação na Medicina e dá
a razão do insucesso desta em certos casos. Desde que o temperamento é um efeito e não uma causa, os esforços tentados para modificá-lo podem ser paralisados pelas disposições morais do Espírito, que opõe uma resistência inconsciente e neutraliza a ação terapêutica. É, pois, sobre a causa primeira que se deve agir; se não se consegue mudar as disposições morais do Espírito, o pensamento se modificará por si mesmo, sob o império de uma vontade diferente ou, pelo menos, a ação do tratamento médico será secundada, em vez de ser contrariada. Se possível, dai coragem ao poltrão, e vereis cessarem os efeitos fisiológicos do medo; dá-se o mesmo em outras disposições.
Mas, perguntarão, pode o médico do corpo fazer-se médico da alma? Está em suas atribuições fazer-se moralizador de seus doentes? Sim, sem dúvida, em certos limites; é mesmo um dever, que um bom médico jamais negligencia, desde o instante que vê no estado de alma um obstáculo ao restabelecimento da saúde do corpo. O essencial é aplicar o remédio moral com tato, prudência e a propósito, conforme as circunstâncias. Deste ponto de vista, sua ação é forçosamente circunscrita, porquanto, além de não exercer sobre o seu doente senão um ascendente moral, em certa idade é difícil uma transformação do caráter. É, pois, à educação, e, sobretudo à primeira educação, que incumbem os cuidados dessa natureza. Quando, desde o berço, a educação for dirigida nesse sentido; quando se aplicar em abafar, em seus germes, as imperfeições morais, como faz com as imperfeições físicas, o médico não mais encontrará, no temperamento, um obstáculo contra o qual a sua ciência muitas vezes é impotente.
Como se vê, é todo um estudo; mas um estudo completamente estéril, enquanto não se levar em conta a ação do elemento espiritual sobre o organismo. Participação incessantemente ativa do elemento espiritual nos fenômenos da vida, tal é a chave da maior parte dos problemas contra os quais se choca a Ciência.
Quando esta levar em consideração a ação desse princípio, verá se abrirem à sua frente horizontes inteiramente novos. É à demonstração desta verdade que conduz o Espiritismo.

(Revista Espirita, Março de 1869)

sexta-feira, 1 de julho de 2016

O CÉU ESTRELADO



Por Léon Denis

Um livro grandioso, dissemos, está aberto aos nossos olhos, e todo observador paciente pode ter nele a palavra do enigma, o segredo da vida eterna.
Aí se vê que uma Vontade dispôs a ordem majestosa em que se agitam todos os destinos, se movem todas as existências, palpitam todos os corações.
Ó Alma! Aprende primeiro a suprema lição que desce dos espaços sobre as frontes apreensivas. O Sol está escondido no horizonte; seus alvores de púrpura tingem ainda o céu; luz serena indica que, além, um astro se velou aos nossos olhos. A noite estende acima de nossas cabeças seu zimbório constelado de estrelas.
Nosso pensamento se recolhe e procura o segredo das coisas, Voltemo-nos para o Oriente. A Via-Láctea expande, qual imensa fita, suas miríades de estrelas, tão aconchegadas, tão longínquas, que parecem formar uma contínua massa. Por toda parte, à medida que a noite se torna mais densa, outras estrelas aparecem, outros planetas se acendem qual se fossem lâmpadas suspensas no santuário divino. Através das profundezas insondáveis, esses mundos permutam os seus raios de prata; impressionam-nos, a distância, e nos falam uma linguagem muda.
Eles não brilham todos com o mesmo fulgor: a potente Sírius não se pode comparar à longínqua Capela. Suas vibrações gastaram séculos a chegar até o nosso olhar, e cada um de seus raios vale por um cântico, uma verdadeira melodia de luz, uma voz penetrante. Esses cânticos se resumem assim: “Nós também somos focos de vida, de sofrimento, de evolução. Almas, aos milhares, cumprem, em nós, destinos semelhantes aos vossos.”
Entretanto, todos não têm a mesma linguagem, porque uns são moradas de paz e de felicidade, e outros, mundos de luta, de expiação, de reparação pela dor. Uns parecem dizer: Eu te conheci, Alma humana, Alma terrestre; eu te conheci e hei de te tornar a ver! Eu te abriguei em meu seio outrora, e tu voltarás a mim. Eu te espero, para, por tua vez, guiares os seres que se agitam em minha superfície!
E depois, mais longe ainda, essa estrela que parece perdida no fundo dos abismos do céu e cuja luz trêmula é apenas perceptível, essa estrela nos dirá: Eu sei que tu passarás pelas terras que formam meu cortejo, e que eu inundo com os meus raios; eu sei que tu aí sofrerás e te tornarás melhor. Apressa a tua ascensão. Eu serei e sou já para contigo uma vera amiga, porque até mim chegou o teu apelo, tua interrogação, tua prece a Deus.

Livro "O Grande Enigma", Capitulo 10
Instrumental com imagens do Céu estrelado