segunda-feira, 4 de julho de 2016

HISTORIA DE UM CÃO


Falávamos de amor, de heroísmo e ternura,
Nos caminhos da Terra, em lutas naturais,
Quando um amigo lembrou: “não se deve esquecer
O amor dos animais”.

E contou comovido:
— Quando na Terra, um pobre cão rafeiro
Que eu nunca soube de onde vinha,
Fez-se meu companheiro
Na tapera isolada que eu mantinha.
Era um cão vagabundo, um desses cães,
Cujo medo de banho desconsola,
Vendo-lhe a boca enorme e as bochechas caídas,
As crianças chamavam-no Beiçola.
Bernento e preguiçoso, muitas vezes,
Procurei desterrá-lo,
Mas Beiçola voltava e me seguia
Estivesse eu a pé ou trotando a cavalo.
Já não sabia o que fazer do cão,
Que já me habituara a suportar
Num misto de amizade e de aversão.
Certa manhã de sábado, eu devia,
Ir do campo à cidade,
A fim de resgatar antiga conta
Cujo prazo vencia.
Montei no meu pequira muito cedo
De merenda robusta na sacola,
E pus-me alegremente no caminho
Acompanhado por Beiçola.
Desmontei-me às dez horas para o almoço,
Transportando a merenda para baixo,
Ao pé de velha ponte que cobria
Um pequeno riacho…
Alimentei-me à farta e dei ao cão
Tudo o que me sobrou da refeição…
Tomei de novo a montaria
Açoitei o animal para seguir depressa,
O débito a pagar era daquele dia,
Mas uma cena estranha então começa.
Beiçola, de ordinário, pachorrento,
Intentava correr, de lado a lado,
Em uivos e latidos…
Depois correu à frente,
Como a querer parar o pequira assustado.
O cão dependurava-se nos freios,
Enquanto eu lhe gritava nomes feios;
Espanquei-o a chicote, mas em vão…
E cansado de vê-lo a pular, doidamente,
Conclui, de repente,
Que a doença da raiva atacara meu cão…
Agi sem medo, rápido e seguro,
Dei-lhe um tiro com o fim de eliminá-lo,
De modo a defender-me e a livrar meu cavalo.
Beiçola então soltou doloroso gemido,
Caminhou para trás, claramente ferido,
Enquanto fui em frente…
Mas atingindo o banco e buscando o gerente,
A fim de resgatar a minha conta inteira,
Debalde procurei minha carteira…
No assombro que me toma,
Notei que me faltava grande soma…
Decerto que perdera o dinheiro em caminho
Pois saíra com ele da fazenda…
Deliberei voltar ao local da merenda,
Pedi ao chefe amigo aguardar mais um pouco
E aflito, semi-louco,
Remontei o cavalo e voltei de corrida…
Regressando ao lugar em que estivera…
E o amigo rematou, emocionado:
— Só então compreendi quão ingrato que eu era…
Sabem o que encontrei?
Após seguir pequeno espaço
Todo ele marcado em sangue, traço a traço,
Achei Beiçola já sem vida…
E ao arrastá-lo para um canto,
Vi, sob o corpo dele, a estremecer de espanto,
A carteira perdida…
Ah! como me doeu o coração
De susto e de emoção!…
Não sei dizer tudo o que sinto,
Por muito que lhes conte,
Meu pobre cão rafeiro,
Cuja lembrança está sempre comigo,
Arrastou-se ferido e, após ganhar a ponte,
Morreu fiel e amigo,
Guardando o meu dinheiro.

Espirito Maria Dolores
Médium Francisco C. Xavier
Livro "Coração e Vida"

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Ceci, obrigado pelo carinho. Volte sempre, esperamos ser uteis de alguma forma! Bjs

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    2. Ceci, obrigado pelo carinho. Volte sempre, esperamos ser uteis de alguma forma! Bjs

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    3. Ceci, obrigado pelo carinho. Volte sempre, esperamos ser uteis de alguma forma! Bjs

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